quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Barulhos, surdos e absurdos


Barulhos, surdos e absurdos




No meio da noite um grito,
e ninguém se mexe.
Não vi coisa alguma, ninguém me viu,
ninguém percebe.
A lua é testemunha, mas não fala.
E muda, se cala.
Quem falará por mim?
Eu que pensei ter ouvido vozes,
ando como um zumbi.
Tropeço num gato de porcelana,
que, com o toque, se espatifa no chão,
sem emitir som algum.
E internamente escuto outro grito, agora interminável,
que povoa minha cabeça.
E me impele a debruçar na janela,
para olhar para o nada,
da escuridão dos becos.
E ouvir o nada,
do silêncio dos ecos.
Será que morri?
E é assim meu pesadelo,
será que ouvi?
Ou este é um devaneio,
que antecipa catástrofes.
Delírio de quem está na fronteira da morte,
e luta por um sinal vital,
desesperadamente irracional.
É virtualmente impossível este silêncio barulhento.


BETO CAMPOS – DEZ 2010

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